Fernando Pessoa (1)
“Eu amo tudo o que foi,/Tudo o que já não é./ A dor que já não me dói,/ A antiga e errônea fé,/ O ontem que dor deixou,/ O que deixou alegria/ Só porque foi, e voou/ E hoje é já outro dia. (8-3-1931)
Escrito por Alberto Guzik às 08h09
(1) Fernando Pessoa ( Lisboa, 1888/1935) Poeta, dos maiores da língua portuguesa. Como passou parte da infância na África do Sul, falava fluentemente o inglês. Das 4 obras que publicou em vida, 3 são nesta língua. Conhecido por seus heterônimos – mais que outros nomes, outras personalidades, com as quais escrevia poesia com grandes diferenças estéticas e de visão de mundo entre si.
23/11/2006
Ecos do Recife
Eis o que a crítica (1) do centenário Jornal do Commercio, do Recife, escreveu sobre a “Vida na Praça Roosevelt”:
FESTIVAL DE TEATRO II
Personagens fortes e texto impecável são destaque dos Satyros
Publicado em 18.11.2006
Segunda peça que os paulistas do Satyros trouxeram para o Festival Recife do Teatro Nacional, A vida na Praça Roosevelt (no Teatro do Parque) levou ao palco algumas das mais belas cenas da nona edição do encontro – o momento em que o travesti Aurora tira a própria peruca e a coloca na cabeça da amiga doente, a secretária Concha, e a entrada em cena do travesti-bailarina que tem um dos pés defeituosos são alguns deles.
Baseada no texto da alemã Dea Loher, a peça de duas horas e cinco minutos agradou àqueles que se instalaram em um Teatro do Parque onde os morcegos, apesar da climatização e da “modernização”, ainda dão o ar da da graça em pleno palco. Um pai que procura o filho que só come laranjas, uma mãe desesperada, as gêmeas falsamente ingênuas, o herdeiro de uma fábrica de armas e a garota da voz desagradável que assume um tom sexy quando “canta’ os números do bingo são alguns dos personagens que habitam o logradouro no centro de São Paulo.
O diretor Rodolfo García Vázquez realizou um belíssimo trabalho ao encenar essa galeria de gente que vive entre o desespero e alguns resquícios de felicidade: ela está na peruca da citada Aurora (o ator Alberto Guzik), na fotografia esmaecida de Foz do Iguaçu, no retrato iluminado de um menino que saiu de casa para não voltar. Muitas vezes, esses personagens, juntos, remetem a um circo estranho, instalado entre o sonho e o pesadelo, como no momento em que o travesti-bailarina, o “menino” de cara velha que segura seus balões coloridos e o rapaz com o rosto desfigurado pela elefantíase estão juntos no palco.
Dea Loher, mesmo com seu olho estrangeiro, conseguiu realizar um texto que fala de um Brasil que poderia ser qualquer lugar, onde o submundo nunca é totalmente feio. Ou tampouco bonito.
Jornal do Commercio, Recife, 18 de novembro de 2006.
Escrito por Alberto Guzik às 14h05
(1) Não consegui localizar a autora. Não é Ivana, com quem já chequei.