Em 44 anos de vida de eleitor brasileiro, pela primeira vez, ontem, votei nulo. E me senti bem por isso. Decidi que não queria mais do mesmo de um lado nem de outro. Lula decepcionou-me. Talvez porque tivesse esperado que ele realmente fizesse uma diferença no governo. Não fez. Sei que perto do grupo circundante de FHC e da sua farra bilionária das privatizações, todas as falcatruas da turma próxima de Lula parecem coisa de colegiais, de aprendizes. Mas Lula ficou tão longe do que eu ansiava, que seria muita hipocrisia votar nele só porque não concordo com as idéias e o modus operandi de Geraldo Alckmin. Então decidi votar nulo. Aconteça o que acontecer nos próximos anos, não terá sido com meu voto, não terá sido com meu aval. Respirei mais aliviado depois que tomei essa decisão. Nem durante o governo militar, nem na farra do boi que foi a República Nova tive a tentação de anular meu voto. Desta vez foi o contrário. Percebi quer não poderia fazer outra coisa. Minha postura nada tem a ver com partidos. No primeiro turno não votei em legendas, mas em pessoas nas quais acreditava. Felizmente, com exceção do meu candidado a presidente, CB (1), meus outros escolhidos foram eleitos. Foi um voto Frankenstein o meu. Votei em gente do PT, do PSB e do PSDB. Que salada, hein? Mas ontem não havia como fazer salada. E preferi ficar de fora dessa. Que lástima, anular o voto por não acreditar mais nos candidatos. Fiquei triste.
Escrito por Alberto Guzik às 14h12
(1) CB- Cristóvão Buarque. ( Recife, 1944) Político, é Senador pelo Distrito Federal. Foi Ministro da Educação durante o início do primeiro governo Lula. Candidato a Presidência, sua campanha era quase monotemática: a Educação seria a grande bandeira de seu possível governo.