Franco

Há muitas vidas atrás ele foi um talentoso aluno meu na Escola de Arte Dramática. E depois se tornou um compositor danado de bom, eita, como diria meu amigo Marcelino Freire.
“Viver é afinar o intrumento/De dentro pra fora, de fora pra dentro. A toda hora, a todo momento, de dentro pra fora, de fora pra dentro. O importante é manter a mente quieta, a coluna ereta e o coração tranquilo”, canta ele, Walter Franco (1) , um sabio criador.
Escrito por Alberto Guzik às 16h01

(1) Walter Franco (São Paulo, 1945). Músico, compositor, cantor. Muito pessoal e sempre na vanguarda, tem uma carreira bissexta: até hoje só gravou 6 discos.

 

Entra Inocência

Vamos entrar em cena hoje. Domingo. Para convidados e amigos. Daqui a pouco. Estou tremendo. O espetáculo é dificílimo. Somos atores e contra-regras. Exigidos ao máximo nas duas funções. É arrebatador o resultado do trabalho de Rodolfo Vázquez e de toda a equipe que criou “Inocência”, texto magnífico de Dea Loher. Uma viagem visual de resultados surpreendentes e ousados, que traduz com muita energia a viagem terrível empreendida pela dramaturga. Avalio o que aprendi nesse processo. Antes de mais nada, ter de perceber o conjunto, além do meu próprio umbigo, isto é, da(s) personagem(ns) que tenho de interpretar. É preciso operar instrumentos, abrir ou fechar cortinas, mudar o cenário, com uma precisão de cujo ajuste depende o ritmo do espetáculo. E ao mesmo tempo em que os atores pilotam manualmente toda a parafernália têm de estar disponíveis para um texto complexo, em que vários níveis de narrativa se superpõem. O texto é cruel e amargo. E levei muito tempo para perceber o quanto estou apaixonado por ele, por esse trabalho, por esse elenco. Se já existiu um espetáculo onde o protagonista é exatamente o conjunto do elenco, e não um nome individual secundado por outros, esse é “Inocência”. Me delicio ao ver em cena os desempenhos afiadíssimos dessa trupe incrível. Fico observando dos bastidores ou em cena os imigrantes Fadul e Elísio (Ivam e Fabiano), a stripper cega Absoluta (Cléo), a culpadíssima sra. Habersatt (Ângela), a Zucker (Suri), mãe opressora da tristíssima Rosa (Nora) e sogra do necrófilo Franz (Laerte), a filósofa em crise Ella (Silvanah), o pai da filha assassinada (Rui), os intensos e arrebatados suicidas (Tati e Dani), a figura estranha do anjo da morte que mais parece uma vedete do velho teatro de revista (Phedra) e fico certo de que esse grupo forma neste momento um conjunto, uma unidade que na totalidade protagoniza “Inocência”. Muito me orgulho de participar do grupo na pele de Helmut, o calado joalheiro casado com Ella. Agora tchau. Estou indo pro teatro. Evoé. Merda!
E se posso desejar, que um pouco da energia e da adrenalina dionisíacas que circundam o Espaço dos Satyros neste momento de intensa criação alcancem uma velhinha muito velhinha que eu amo e que tem estado bem doente.

Escrito por Alberto Guzik às 16h54

 

Falas de “Inocência”

“Tão simples podia ser a vida.”
“Eu queria tanto trabalhar em um posto de gasolina!”
“Já te disse hoje o quanto te odeio?”
“Eu vi a mulher quando ia para a água.”

Escrito por Alberto Guzik às 17h07

 

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