guarnieri

triste semana pro teatro. ontem foi-se guarnieri. outro grande. como dramaturgo nos anos 50-70. como ator, sempre. poucas vezes vi alguém tão à vontade em cena. tive o privilégio de ver guarnieri em ‘eles não usam black-tie’ duas vezes, como o filho, no fim dos anos 50, e como o pai, no filme de herzog. a montagem já se foi. ficou só a memória do magnífico ator. mas o filme ainda está aí, pra provar o que falo. que magnífica figura, gianfrancesco guarnieri. o teatro brasileiro agradece.

Escrito por Alberto Guzik às 10h13

(1) Gianfrancesco Guarnieri – Teatropédia
(2) Eles Não Usam Black-Tie – Enciclopédia Itaú
3) Aqui, Guzik comete um pequeno erro. O filme, de 1981, não foi dirigido por Werner Herzog, e sim por Leon Hirszman. Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Eles_não_Usam_Black-tie_(filme)

 

Ivam em processo

Ele é um furacão. Quem vê Ivam atento, solícito, gentil com todo mundo, no bar dos Satyros e nos arredores do teatro, não é capaz de imaginar como ele se transforma quando entra em ensaios. Um dos intérpretes mais sensíveis que eu já conheci, Ivam coloca toda sua argúcia a serviço do processo de criação. Temos trabalhado juntos intensamente desde janeiro de 2004. Ainda não o dirigi, nem vice-versa. Mas atuamos juntos em ‘Kaspar’, ‘Transex’, ‘A Vida na Praça Roosevelt’, ele fez a trilha sonora de minhas encenações ‘O Céu é Cheio de Uivos, Latidos e Fúria’ e ‘De Alma Lavada’. Agora estamos juntos no elenco de ‘Inocência’.

Ivam é movido pela paixão. Suas emoções indicam o caminho que vai percorrer. Mas se engana quem imaginar que esse artista é um irracional apaixonado que vaga feito figura de tragédia romântica pelos corredores dos Satyros. Ao contrário. Ivam mescla a paixão, a paixão com que defende seus pontos de vista, a paixão com que pesquisa elementos para uma personagem ou sons para uma trilha sonora, com um permanente exercício de crítica extremamente racional do processo de trabalho. Sempre quer mais. Sempre deseja o não visto, o não feito. É um radical que não se contenta com pouco. Sempre aponta as contradições, as frinchas, as frestas do pensamento, do conceito em discussão. E não tem medo de ousar, de enlouquecer, de imaginar com energia e intensidade. E, como indicam suas trilhas sonoras (a de “A Vida na Praça Roosevelt” é uma obra de mestre), procura por climas harmônicos dissonantes, estranhos, pouco usuais. O resultado é sempre surpreendente, dialoga com o espetáculo de forma intensa e reveladora.

Como ator, Ivam procede da mesma maneira. Está o tempo todo em busca do desafio, do desconhecido. É um ator camaleão. Bárbara, Dolmancé, Mirador, Kaspar, Teresa de Ávila, Oscar Wilde, para citar só algumas atuações recentes, são criações extraordinárias, cada uma com seu código, com seu desenho visual nítido, seu traçado gestual preciso, exaustivamente pesquisado. E agora vem aí Fadoul, o protagonista de Inocência. Testemunhar Ivam em construção é aprender até onde um ator deve ir: sempre além de seus limites.

Escrito por Alberto Guzik às 11h04

 

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