Na noite de ontem ela estava esplendorosa, lá nos Satyros, pronta pra festejar o aniversário de Ivam Cabral. Como Phedra de Cordoba é chique. Pode estar usando um trapo, mas enverga-o com tanto garbo que fica parecendo a própria Greta Garbo. É preciso ver a expressão misteriosa da diva, quando viaja nas excursões da companhia. E é preciso ver sua desenvoltura quando tem que se expressar na salada de línguas que usa no dia a dia. “I have no espression”, diz para afirmar que não tem palavras de agradecimento. “I want fried potatoes with peru glugluglu”, afirma quando quer bife de peru com fritas. “What sabores do you have”, pergunta, na maior cara de pau, pra rodomoça vietnamita que nos atendeu na Alemanha. E pra mesma rodomoça indaga, direta: “Do you have biscoits”. Phedra é incrível. Elegantésima e fala phedrês. Um fenômeno essa figura que chegou de Cuba pra ser a diva da Praça Roosevelt.
Escrito por Alberto Guzik às 16h47
Ivam e ‘De Profundis’
E por falar no aniversário do Ivam, ele deu-se trabalho de presente. Participou na sexta, dia 23 e ontem, dia 24, da montagem de “De Profundis”, que Rodolfo García Vázquez remontou e está em cartaz desde janeiro, à meia-noite, no Espaço dos Satyros 2, onde permanece por apenas mais duas semanas. Ivam substituiu Marçal da Costa , um dos libertinos dos “120 Dias de Sodoma”, que foi encarregado por Rodolfo de viver, nesta temporada, o papel de Oscar Wilde, que Ivam criou nas várias temporadas anteriores do espetáculo.
Ver Ivam em cena, mais uma vez, fazendo Oscar, ao lado de Germano Pereira, um intenso e vibrante Bosie, é uma experiência perturbadora. Um dos melhores atores de sua geração. Isso é o que acho de Ivam, e já escrevi a opinião em vários lugares. Tive a rara chance de contracenar com ele em montagens tão diversas quanto “Kaspar”, “Transex” e “A Vida na Praça Roosevelt”, e daí fica fácil perceber o leque dramático desse ator único, a sua extensão vocal, a sua entrega física. Ivam é um ator trágico que sabe fazer comédia, farsa, paródia, e o que mais quiser. E se tem essa grandeza de alma, é porque sabe, sempre, ouvir suas dúvidas. Uma pessoa insegura, incerta sempre dos resultados que quer atingir. E que por ser assim, tão assim, está sempre indo além das fronteiras que ele próprio estabeleceu. Saí do teatro ontem habitado pelo pungente espetáculo de Rodolfo e pela interpretação arrebatadora de Ivam, que é secundado com brilho por um elenco batuta. Fiquei triste depois de ver “De Profundis”. Aquela tristeza boa que nos invade quando a gente fica cara a cara com obras de arte.
Escrito por Alberto Guzik às 17h47